domingo, 17 de fevereiro de 2008

Queridos Amigos


A geração de 60 - que Maria Adelaide Amaral vai revisitar no Seriado Queridos Amigos (Globo, a partir da segunda-feira 18) quis reinventar a alegria, ao mesmo tempo quese debruçava, com olheiras existencialistas e Albert Camus na algibeira, sobre o dilema moral do suicídio.

Viveu a balada saltitante do sexo, drogas e rock'roll sem se desgrudar daquelas sessões de malancolia palavrosa de Jean-Luc-Godard. Mergulhou na vertigem da revolução, mas não perdeu a ternura, jamás. Contradição? Incoerência? Olhando para trás, dá para perceber que o melhor dos anos 60 foi ter instaurado a liberdade da interrogação. Constra o sim cretino e asfixiante de quem só tem certezas, o quem-sabe dialético que faz da dúvida o cenário de mil aventuras e mil descobertas.

É um perigo lidar com aquela época de paixões à flor da pele e Maria Adelaide - que teve ali seus anos de formação - é a primeira a saber das armadilhas que espreitam. No romance Aos meus amigos, de 1992, ela já ensaiou o restate amoroso de uma era que, se foi desabrida demais no desfrute dos prazeres momentâneos, também foi generosa o bastante pra acreditar na grandeza da condição humana.

Maria Adelaide escreveu um seriado respeitoso sobre Juscelino Kubistchek - um JK caloroso, politico tolerante, homem de convicção, muito distante daquele JK retratado nas páginas rancorosas e sempre interesseiras de O Globo. Foi uma atitude desassombrada de Maria Adelaide, sabendo-se que são os herdeiros do Dr. Roberto Marinho que lhe pagam hoje seu salário.

Existe um punhado de desiludidos da política, por aí afora. Fernando Gabeira - que votou no Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara - diz que é um deles. Chico Alencar - homem de bem é político de caráter - também se inclui nessa categoria. É bom a gente dar um desconto. Muita gente, com cinismo premeditado, se diz desencantada para reiterar umponto: o que o governo Lula, que semeou esperanças, traiu nossos ideais. Basta ver o que pensa a própria Globo: ela adoraria provar que não passa de encantadora fumaça de tolice aquilo que a geração de 60 viveu. A família Globo nunca levantou vôo. Sempre representou, em qualquer década, aquele pragmatismo chão e interesseiro.

Maria Adelaide não vai cair nessa esparrela. Ela sabe que só pode se sentir iludido que teve de fato ilusão. Ilusão é que nem fracasso amoroso. Quem a teve costuma guardá-la para si, no cofre de suas frustrações íntimas. Esta coluna tem certa de que a sagaz, delicada Adelaide jamais fará do desencontro da utopia com a realidade o estandarte de alguma hipocrisia politica.

fonte: Carta Capital 20/02/08 Nirlando Beirão.

Eu comecei a ler o livro, mas começou me dar uma tristeza muito grande então fui obrigado a interromper, nunca tinha ocorrido isso comigo. A minisérie se chegar a tempo das aulas noturnos, vou ter a alegria de acompanhar.

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